Arca da Aliança Social

Quando me lembro do isolamento ou afastamento da consciência humana nos problemas que afectam ou assolam o bem comum, abraço-me ao pensamento de Vanessa Aguiare, que refere: “Há sempre uma guerra, mesmo que não seja no seu quintal; em algum lugar, alguém está a lutar por comida, por religião, por política ou pela própria sanidade mental”.
Quando o mundo domina a consciência com pensamentos e emoções em forma de monólogo e observa de forma passiva os fenómenos que influenciam o comportamento nocivo humano, pode-se associar a vida a uma imagem que se assemelha à dos tempos da antiga Babilónia, caracterizada pela corrupção espiritual, como as práticas idólatras, a decadência moral e a rejeição dos mandamentos de Deus. Ou mesmo, pode-se compará-la às atrocidades morais, que marcaram Sodoma e Gomorra. O mundo, assim desenhado, sofrerá sempre com escassez de Maná, privando-se do alimento espiritual e social necessário para suprir os estômagos tímidos e calados, que apenas aguardam a chegada do dia da Ceia do Céu, celebrado ao som e ritmo da orquestra dos Anjos.
Virar as costas ao sofrimento do pobre e multiplicar afecto e abraços nos ombros do rico já saciado anima o falso de consciência ou mendigo social, que desvia o pincel que carrega as cores do bem comum – cores essas que poderiam embelezar as asas da borboleta da vida, soprando um futuro melhor para todos os não eternos, que lutam pela preservação do dom mais precioso: a vida.
O mundo precisa participar activamente na busca de soluções que respondam às questões que ferem a veia social. O mundo precisa se levantar para orientar a locomotiva que puxa vagões carregados de esperança, modificando o prazer de viver e o conceito de vida dos mais necessitados. O mundo precisa pensar em soluções que erradiquem o sofrimento.
O mundo dos ricos precisa unir-se ao espírito sofrido dos pobres para sentir a dor da guerra que arranca almas inocentes, deixando uma sociedade desprovida de segurança. O mundo precisa enxergar as lágrimas da criança sem colo de esperança, sem um feixe de luz que a guie, para que possa navegar no oceano do futuro, onde as ondas absorvem as lágrimas e o vento fresco seca o sofrimento.
O mundo precisa unir-se pela preservação da natureza e preparar condições necessárias para as futuras gerações. Precisa de uma educação ambiental que valorize a natureza como a única casa com condições de sustentar a vida. A responsabilidade de cuidar do meio ambiente cabe a todos os seus habitantes. A convivência com a natureza deve ocorrer respeitando o futuro das futuras gerações.
O medo de se envolver em problemas que não afectam directamente a nossa vida sempre fez parte da natureza humana. Pedro negou 3X conhecer o Mestre Jesus, mesmo caminhando diariamente ao seu lado. Assistir ao sofrimento alheio sem agir, apesar de ter condições para ajudar, sempre fez parte do lado egoísta do ser humano, que ignora sua consciência social. A luta e a culpa foram sempre individualizadas.
O mundo precisa participar da construção de uma nova Arca da Aliança, onde se conservará a santidade de um compromisso eterno, depositando nela os valores essenciais da vida, que guiarão o mundo rumo a uma convivência social harmoniosa, num lounge de solidariedade, sem medo nem receio.