Tribunal julga líderes estudantis detidos em Luanda

Oito líderes do MEA foram julgados em Luanda após uma marcha pacífica por melhores condições nas escolas ser reprimida pela polícia. Estudantes e jornalistas também foram detidos.
O Tribunal de Luanda iniciou, nesta segunda-feira, o julgamento sumário de oito dirigentes do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), detidos no sábado durante uma marcha pacífica contra as más condições das escolas na capital angolana.
A acção policial resultou na detenção de mais de 50 estudantes que participavam na marcha. Entre os detidos estavam também, inicialmente, pelo menos quatro jornalistas, posteriormente libertados ainda no sábado. A maior parte dos estudantes foi libertada no início da noite, mas os principais organizadores continuam sob custódia e estão a ser julgados, segundo confirmou Francisco Teixeira, presidente do MEA.
Entre os detidos encontram-se Joaquim Lutambi, vice-presidente do movimento; Jones Sebastião Damião, secretário provincial de Luanda; Simão Formiga, secretário provincial do Icolo e Bengo; Nsimba Matamba, secretário nacional para o Ensino Primário, além de outros quatro membros da organização. Teixeira conseguiu escapar da detenção.
Até ao momento, não foram divulgadas as acusações formais contra os oito dirigentes.
Impedimento político da marcha
A marcha estudantil foi impedida pelas autoridades 15 dias após o seu anúncio. A comunicação oficial de indeferimento foi entregue apenas um dia antes do protesto, algo que os organizadores consideram um acto político.
“O Governo Provincial não tem competência para indeferir a nossa comunicação. Ele deveria apenas recebê-la e coordenar com a polícia a segurança da actividade. A intervenção foi claramente política, usando os órgãos de repressão para nos agredir”, acusou Francisco Teixeira.
Segundo o MEA, a repressão demonstra uma postura governamental que “envergonha o país”.
Reivindicações dos estudantes
A manifestação visava pressionar o Governo para resolver problemas estruturais nas escolas públicas, como a falta de carteiras, de professores e as deficientes condições de higiene. Outro ponto crítico abordado foi o número alarmante de escolas que ainda funcionam debaixo de árvores em Angola — cerca de 19 mil, segundo dados citados pelo movimento.
“Não estávamos a pedir a queda do governo do MPLA nem a tomar o poder. Queríamos apenas condições dignas para o ensino: carteiras, livros, salas de aula adequadas e mais professores”, explicou o líder do MEA.
O movimento também exigiu a exoneração da ministra da Educação, Luísa Grilo, e do governador de Luanda, Luís Nunes, apontando responsabilidade direta pelas más condições de ensino.