FMI apela ao Governo a reduzir a massa salarial e cortar as isenções fiscais

O Fundo Monetário Internacional diz que Moçambique deve reduzir a massa salarial, cortar as isenções fiscais e modernizar a administração tributária se quiser alcançar a robustez econômica. O representante residente do FMI em Moçambique falava hoje durante o economic briefing.
O primeiro trimestre de 2025 mostrou-se animador para a recuperação da economia nacional, mas o Fundo Monetário Internacional entende que há fatores que desaceleram o processo e a dívida pública é um deles.
“A dívida pública continua alta. Após ter caído para 91% do PIB em 2023, está agora se aproximando de 100% do PIB. Além disso, a composição da dívida doméstica apresenta riscos significativos de rolagem e de taxa de juros. As agências de classificação de crédito baixaram a classificação da dívida pública doméstica de Moçambique em março de 2025. O Eurobond de Moçambique recentemente viu o spread se alargarem acima de 1.300 pontos de base”, referiu-se Olamide Harisson, representante residente do FMI em Moçambique.
Por isso, o representante residente do FMI em Moçambique, propõe o envolvimento directo do Governo, na tomada de medidas económicas.
“Moçambique precisará tomar medidas corajosas e antecipadas para aumentar sua resiliência. Reduzir a massa salarial, cortar isenções fiscais e modernizar a administração tributária são medidas essenciais para restaurar a sustentabilidade fiscal. Ao mesmo tempo, os gastos domésticos pró-borno devem ser aumentados, especialmente dados os cortes na assistência oficial ao desenvolvimento. Melhorar a capacidade de gestão da dívida é essencial”, explicou.
O FMI compromete-se em colaborar com Moçambique nas negociações do novo programa de financiamento.
Olamide Harisson falava nesta quarta-feira, 30, durante o Economic Briefing, um evento organizado pela Confederação das associações económicas de Moçambique, CTA, que, apesar das incertezas faz um balanço positivo do primeiro trimestre de 2025.
Primeiro trimestre de 2025 foi positivo
Na sua primeira intervenção, Vuma destacou que houve, entre Janeiro e Março do corrente ano, uma ligeira aceleração da actividade económica, com o índice do Ambiente Macroeconómico subindo de 50% no último trimestre de 2024 para 51% neste trimestre. A inflacção manteve-se estável em torno de 3,34%, e o metical mostrou resiliência
“Da avaliação feita pela CTA, constatamos como tendo sido os principais factores que determinaram estes resultados, a restauração da estabilidade sócio-política, aumento do fluxo de transporte à medida que os bloqueios das vias foram reduzindo, redução do custo de combustíveis numa média de 2,7%. Como aspecto negativo, registamos o relativo aumento dos insumos no sector agrícola, o aumento dos custos com a logística e manutenção no sector de transporte, principalmente devido aos impactos das mudanças climáticas, e constrangimentos na aquisição de insumos decorrente do défice de divisas no mercado. Portanto, o I Trimestre de 2025 apresentou sinais de recuperação empresarial num contexto ainda frágil”, explicou Vuma.
E por essa fragilidade que persiste a insegurança por parte dos privados em fazer investimentos no país.
“Embora a situação esteja mais controlada, a percepção de risco político reduziu temporariamente a confiança dos investidores, especialmente nas PME e comércio, e na atractividade do país como destino de turismo privilegiado. Este facto faz crer sobre a necessidade de encetar acções da parte do governo, do sector privado e da sociedade como um todo para, por um lado assegurar a estabilidade sócio política, e por outro projectarmos o país como um destino preferencial de investimentos e turistas”.
Este pode ter sido o último evento do género da CTA antes da eleição dos novos órgãos sociais da agremiação.