Acidentes de viação mataram este ano, 207 pessoas em Moçambique

As estradas de Moçambique, que deveriam ser um símbolo de desenvolvimento e progresso, têm-se tornado palco de tragédias quase diárias. Em vez de representarem uma conexão entre sonhos e oportunidades, transformaram-se em locais onde vidas se perdem de forma abrupta. A sinistralidade rodoviária, com números assustadores, tem desafiado tanto as autoridades como a sociedade civil, exigindo uma resposta coletiva.
Nos primeiros três meses de 2025, o país registou 207 mortes por acidentes de viação, um aumento alarmante de 40% em relação ao mesmo período de 2024. O impacto destes números foi destacado na abertura da Semana Global de Segurança Rodoviária, realizada na província de Inhambane, uma das mais afetadas pela sinistralidade rodoviária. Este evento, promovido pelas Nações Unidas no âmbito da Década de Ação pela Segurança Rodoviária (2021-2030), procura mobilizar esforços para reduzir pela metade as mortes e os ferimentos graves nas estradas até 2030.
Durante a cerimónia, o diretor da Divisão de Segurança Rodoviária no INATRO, Alcidiio Macucule, explicou a escolha de Inhambane como sede do evento. “Esta província, atravessada pela Estrada Nacional Número 1, regista alguns dos índices mais elevados de acidentes de viação. Dentro da província, o distrito de Jangamo é o mais afetado, liderando os casos de sinistralidade”, afirmou Macucule, sublinhando a gravidade da situação.
Os números apresentados por Macucule não deixam dúvidas sobre a magnitude do problema. No primeiro trimestre de 2025, foram registados 149 acidentes de viação em todo o país, contra 137 no mesmo período do ano anterior, o que representa um aumento de 9%. Mais preocupante ainda é o aumento das consequências fatais: 207 mortes este ano, contra 148 em 2024. “Este crescimento de 40% nos óbitos não pode ser encarado como uma simples variação estatística. Representa vidas humanas perdidas, sonhos interrompidos e famílias devastadas”, alertou o responsável do INATRO.
Além disso, Macucule revelou que, durante este período, seis acidentes de grande impacto resultaram em 61 mortes nas províncias de Manica, Gaza e Maputo. “Felizmente, Inhambane não registou nenhum acidente desta magnitude, mas isso não deve ser motivo para complacência”, acrescentou, apelando à mobilização coletiva para reduzir a sinistralidade.
A Secretária de Estado na província de Inhambane, Bendita Lopes, também se pronunciou durante a cerimónia, descrevendo a sinistralidade rodoviária como um “flagelo público” que tem afetado severamente a província. Num discurso repleto de emoção, Lopes destacou o impacto social e económico dos acidentes. “Nos últimos anos, Inhambane tem registado números preocupantes de acidentes que ceifam vidas, deixam feridos graves e causam danos materiais avultados”, afirmou.
Segundo os dados apresentados por Lopes, entre janeiro e março deste ano, a província registou 21 acidentes de viação, que resultaram em 24 mortes, 26 feridos graves e 39 feridos ligeiros. “Estes números representam pessoas concretas, famílias que perderam entes queridos e cidadãos que viram as suas vidas transformadas para sempre”, lamentou a Secretária de Estado.
Para Lopes, a sinistralidade rodoviária não é apenas um problema de segurança pública, mas também uma questão económica. “Os acidentes impactam negativamente os serviços de saúde, desviam recursos públicos e afetam a produtividade das famílias e das empresas. É um ciclo vicioso que precisamos de quebrar”, afirmou. Lopes destacou ainda o lema deste ano, “Promover a Caminhada e o Ciclismo”, como um apelo à adoção de práticas mais sustentáveis e seguras.
Um dos maiores desafios apontados durante o evento foi a falta de fiscalização efetiva nas estradas. Tanto Macucule quanto Lopes apelaram à tolerância zero contra infratores, sublinhando a importância de reforçar a fiscalização e a educação cívica. “Precisamos de mapear as zonas críticas, identificar os tipos de veículos mais envolvidos e compreender as causas dos acidentes. Só assim poderemos implementar soluções eficazes”, disse Lopes.
Macucule reforçou que a prevenção deve ser uma responsabilidade partilhada. “Os condutores precisam de garantir que os seus veículos estão em boas condições e conduzir com prudência. Os peões, por sua vez, devem atravessar as estradas de forma segura. E o regulador de trânsito tem o dever de educar e sancionar os que violam as regras”, frisou.
Além disso, a infraestrutura rodoviária foi apontada como um fator crítico. Muitas estradas em Moçambique carecem de manutenção adequada, o que aumenta os riscos de acidentes. “O governo está comprometido em continuar a melhorar as condições das estradas e a reforçar os meios de fiscalização, mas isso exige recursos significativos”, reconheceu Lopes.
A questão dos custos emocionais e sociais também foi amplamente discutida. “Cada acidente não é apenas um evento isolado. É uma história interrompida, uma família destruída, um sonho desfeito”, afirmou Lopes, apelando à solidariedade e ao compromisso coletivo para combater o problema.
O evento encerrou com um apelo urgente à ação. A sinistralidade rodoviária não pode continuar a ser tratada como uma inevitabilidade. É preciso uma mudança de mentalidade e um compromisso conjunto para garantir que as estradas de Moçambique sejam seguras para todos.
“Promover a segurança rodoviária é promover o direito à vida, consagrado na Constituição da República de Moçambique”, concluiu Lopes. “Que este seja o ponto de partida para uma nova era de responsabilidade e segurança nas nossas estradas.”
Com iniciativas como a Semana Global de Segurança Rodoviária, espera-se que a sociedade moçambicana desperte para a urgência de mudar este cenário. Porque, no final, cada vida perdida nas estradas do país é uma perda irreparável para toda a nação.