Graça Machel diz que UP deve ser referência máxima na formação de professores

Em uma reflexão profunda sobre a educação em Moçambique, Graça Machel deu recomendações cruciais para o futuro da Universidade Pedagógica (UP), destacando seu papel insubstituível na formação de docentes e técnicos de educação. Para Machel, a UP é a chave para a relevância de Moçambique no cenário global e para a consolidação da unidade nacional.
Ela defende que a universidade deve se reafirmar essencialmente como uma instituição de formação de professores e técnicos de educação no mais alto nível que o país for capaz. “Ninguém deve ser capaz de competir e ultrapassar a qualidade que deve sair desta instituição”, afirmou, enfatizando que a UP precisa ser o centro de excelência que define o que é formar um docente no século XXI, capaz de antecipar as dinâmicas e desenvolvimentos do mundo. Para Machel, adiantar-se na formação de professores é uma questão estratégica de sobrevivência para Moçambique como nação, garantindo que o país não fique “sempre atrás dos outros”.
Uma das recomendações mais significativas de Machel foi a necessidade de a UP reconsiderar a opção de abrir representações em todo o país. Embora reconheça que não é uma tarefa exclusiva da UP, Machel salientou que a iniciativa e a liderança devem partir da universidade. Ela argumenta que nenhum país pode se considerar “uno e indivisível” sem instrumentos claros, fortes e seguros que garantam essa unidade.
Machel expressou sua “mágoa” pelo desmembramento da UP, que, em sua visão, resultou na perda de um “instrumento fundamental” que assegurava a unicidade de formação dos docentes em todo o país. Essa unidade de formação, segundo ela, era crucial para forjar “uma mesma maneira de entender o mundo, de entender o país, de abraçar a nacionalidade moçambicana e afirmar-se em cidadãos de uma mesma pátria”. A retomada de uma presença unificada em todas as províncias é vista como essencial para resgatar esse propósito.
Para contextualizar suas recomendações, Graça Machel revisitou a história da educação pós-independência de Moçambique. Descreveu o cenário precário de 1975, com poucos alunos e uma pirâmide educacional aguda. A nacionalização da educação em Julho de 1975, pelo Presidente Samora Machel, foi um marco, abrindo as portas do ensino a milhões de crianças.
O número de alunos na escola primária saltou de 670 mil para 1.2 milhão em 1976, atingindo 1.4 milhão em 1979. Apesar da devastação causada pela guerra dos 16 anos, que destruiu 45% da rede escolar, a resiliência do país permitiu manter cerca de 1.3 milhão de alunos até o Acordo Geral de Paz em 1992. Machel destacou ainda a iniciativa de suspender os 6º e 7º anos letivos em 1977 para formar professores, a chamada “geração 8 de Março”, que se tornou um pilar fundamental para o sistema educacional. A “moçambicanização” dos conteúdos, com ênfase em história, geografia e educação política, foi crucial para a afirmação da identidade nacional. A solidariedade internacional, com o envio de milhares de alunos para Cuba e RDA, também foi lembrada como um exemplo de busca por equidade e unidade nacional, privilegiando filhos de operários e camponeses de todas as regiões. A criação do Instituto Superior Pedagógico (ISP) em 1985 foi a resposta à necessidade de formar professores para o ensino secundário, tornando-se a principal referência na formação de docentes no país.