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A resiliência e união em “Mulheres, Arte e Cura”

No dia 4 de Abril de 2025, realizou-se, no Núcleo d’Arte, uma exposição colectiva de artistas do sexo feminino, intitulada “Mulheres, Arte e Cura”, em homenagem ao 7 de Abril, Dia da Mulher Moçambicana. 

A exposição teve como lema principal “Arte como cura colectiva”, explorando subtemas como: A resiliência, a união, e a luta contra a violência, com técnicas de expressão como pintura, reciclagem, etc.

Participaram da exposição as artistas Sakitifa, Sandra Pizura, Bena Filipe, Emília, Fernanda Lima, Carina Unisse, Capitine, Melice Massongani, Farida, Lizie Ana e Cristina Gonzalez (a exposição foi concebida sob curadoria de Raquel Vedor). 

O público aderiu em massa à exposição, e as artistas libertaram o seu grito artístico e sobretudo de mulher, através dos seus discursos sob o lema da exposição e também das suas obras de arte.

O evento iniciou com olhares espevitados do público sobre as várias obras artísticas no local, a miscelânea com um cocktail servido ao público, para melhor degustação da exposição.

Um detalhe interessante da exposição foi um quadro situado à frente e à esquerda do Núcleo, que dizia: “Faz a tua Arte”. 

O público foi convidado a fazer arte de acordo com a sua imaginação e percepção, à sua disposição estavam tecidos de capulana, tesoura, cola, cartolinas brancas, lápis de cor, marcador e outros materiais para que cada um se expressasse conforme o seu tino.

Tornou-se assim uma exposição inclusiva, com artes e mensagens igualmente interessantes vindas do público. A fotografia do evento também esteve a cargo duma mulher, a fotógrafa Dádiva Abrantes, que, através das suas lentes, gravou a simbiose dos sorrisos da exposição.

A pintura deve ser uma poesia muda, e a poesia uma pintura que fale (Plutarco).

Um momento paradoxal do evento, foi exactamente o momento da poesia. O ambiente vivido no Núcleo d’Arte já era poético em si, mas nada seria melhor que ouvir a poesia em palavras e elevar as almas ao êxtase. 

No meio da exposição, com as emoções ao rubro, a poetisa Naty foi convidada a dizer versos de cura em forma de poesia.

Para o meu espanto, e de alguns amantes deste tipo de expressão, infelizmente, os versos nada tinham de poesia, foram três poemas ao total, e quanto mais os poemas eram recitados, mais a poesia se distanciava deles, o último texto praticamente era narrativo.

A poesia não é apenas um conjunto de palavras em versos, existe uma construção trabalhosa até que um poema se torne poesia, como disse Plutarco, deve haver uma pintura de palavras, e nos três textos não houve qualquer poesia.

O lema da exposição é mais profundo do que aparenta, arte como cura colectiva é uma porta que se abre a cada artista e espectador, para curar-se dos dias turbulentos em que vivemos, com a crise afectiva nos relacionamentos, a arte surge como uma das raras fontes de manifestação do amor, fraternidade e conexão de pessoas independentemente de classe social, raça, status quo etc.

O quadro com o título “Love and dream”, de Sakitifa, feito com recurso à técnica de oléo sobre tela, e com as dimensões 110x78cm, é um dos símbolos da exposição.

No quadro em apreço, um conjunto de mulheres figura num espaço central, de mãos dadas e unidas caminhando juntas.

As linhas da obra são finas, e as figuras possuem formas corporais femininas.

A primeira atenção do espectador vai para o centro do quadro, o gesto de mãos dadas entre as mulheres. O lado central inferior do quadro transmite uma ilusão óptica ao espectador, dando a sensação de movimento ou marcha das mulheres.

O quadro é colorido, com sobreposição de cores tanto primárias quanto secundárias, por exemplo o vermelho destaca-se na linha do horizonte das mulheres, enquanto o amarelo destaca-se acima da linha do horizonte, o azul e o verde foram mais empregados na forma das personagens do quadro.

Sakitifa, ao colorir o quadro, trouxe com o seu talento uma representação da terra, da flora que cerca os seres vivos, normalmente repleta de cores que significam vida.

O gesto de mãos dadas entre as mulheres simboliza a união que as mulheres tanto necessitam no seu quotidiano. São vários desafios enfrentados pela mulher moçambicana, o baixo nível de escolaridade, em comparação com o homem, a violência a que é submetida, dentre outros flagelos.

No quadro em causa, Sakitifa traz recursos visuais para mostrar a própria mulher como seria um mundo em que a mulher é unida e anda de mãos dadas. O espaço geográfico do quadro representa o universo inteiro, a linha do horizonte provavelmente quer dizer que a artista sonha que todas as mulheres do universo sejam unidas.

Da esquerda para a direita, a penúltima mulher olha para a outra à direita como quem diz: Estás bem? Estou aqui para te apoiar. Este simples gesto visual significa que as mulheres devem cuidar umas das outras, não importando as circunstâncias difíceis. No nosso país, são várias as mulheres jovens e adolescentes, abandonadas pelos pais para viver com as avós, ou com terceiros, sendo que os pais estão em vida.

A sensação de movimento na parte inferior do quadro, mostra, inclusive, a flora abanando a um possível vento, que se levanta ao redor das mulheres enquanto elas marcham para frente, este vento ao redor representa as dificuldades que as mulheres enfrentam, mas que, apesar disso, não podem abandonar a marcha, rumo as sua emancipação e ao seu desenvolvimento.

A cura, de facto, foi colectiva. 

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