“Modelo eleitoral na CTA abre espaço para compra de votos”, diz Félix Machado

A Associação Comercial da Beira distanciou-se, nesta segunda-feira, da polémica em torno dos preparativos para as eleições na Confederação das Associações Económicas, CTA, e disse que esta agremiação foi tomada por um cartel de lobistas e corruptos, e que não irá participar nas eleições porque o modelo actual das eleições abre espaço para a compra de votos.
Os empresários da província de Sofala, através da sua associação, a Associação Comercial da Beira, que é membro fundador da CTA, dizem que sentem vergonha da polémica em torno dos preparativos para o processo eleitoral.
A agremiação que estava reunida recentemente em assembleia extraordinária, para discutir a situação eleitoral na CTA, começou por dizer que não entende como a sua agremiação de carácter nacional, que tem a responsabilidade de orientar o Governo sobre o que deve ser feito para tornar a economia forte, mostra incapacidade para liderar um simples processo eleitoral interno.
Félix Machado, presidente da Associação Comercial da Beira, disse que os empresários de Sofala, como forma de ajudar a pôr fim à polémica, escreveram uma carta à CTA, mas dirigida a todos os membros, sugerindo a realização de uma assembleia geral extraordinária.
“Pela nossa surpresa, apenas algumas associações da zona centro escreveram e concordaram com a realização desta reunião, mas, como é necessário um terço para que a direcção organize, não conseguimos realizar”, esclareceu Machado.
A Associação Comercial da Beira entende que o modelo actual para a eleição do presidente da CTA é imperfeito e abre espaço para a corrupção. “O modelo actual não é representativo. Não é por acaso que muitos consideram a CTA a incubadora de bandidos, porque é um cartel que quer controlar aquilo. Não pode ser assim”, justificou.
O modelo actual da eleição do presidente da CTA exige antecipadamente cartas de suporte de candidaturas. Mas, segundo Félix Machado, obrigar que todos os membros que votam sejam portadores de uma lista de deliberação “é errado”, ou seja, esta medida levou muitos membros a fazerem o pagamento de cotas de forma rápida. “Os que têm dinheiro começaram a pagar as cotas das associações para regularizar e para ganhar essa carta. Significa que, por si só, já é um voto antecipado”, esclareceu.
Face aos factos apresentados, os empresários de Sofala deliberaram o seguinte: que “a ACB não vai participar nessas eleições, nem como candidato, nem apoiar algum candidato que apareça aí e nem votar. Vai-se distanciar totalmente deste processo eleitoral, porque não é justo, não é correcto e é vergonhoso”, disse Machado, lamentando ainda a existência de empresários que apoiam o processo.
Na sessão extraordinária da ACB, esta agremiação deliberou a criação da Federação provincial de Sofala do sector privado, como forma de “trazer um organismo forte na província”, mas também, de acordo com Félix Machado, “iremos também conversar com os nossos colegas empresários de Manica, Tete e Zambézia, para que façam o mesmo, criem as Federações Provinciais e que num futuro breve possamos criar uma Confederação Regional Centro”, como base da actual CTA.
Félix Machado disse que ainda há tempo para a CTA sair da vergonha onde está mergulhada e que não há mais ninguém que possa corrigir a CTA se não forem os associados.
Na mesma conferência de imprensa, o presidente da Associação Comercial da Beira falou dos problemas da falta de divisas no país. Machado disse que não sabe se as medidas tomadas pelo banco central são efectivamente macroeconómicas que ajudam a desenvolver o país.
“Eu nunca acreditei nas medidas do banco central. Já falei isso várias vezes. Eram medidas mais populistas, que não têm um impacto real na economia. Falou-se tantas vezes, e o banco central disse que tinha divisa. E pode ter. De que adianta a divisa estar no banco se não podemos pagar o combustível a tempo?”, questionou.
O presidente da Associação Comercial da Beira falava nesta segunda-feira, numa conferência de imprensa que tinha como principal objectivo partilhar o posicionamento da agremiação em relação à polémica na CTA.