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Inhambane reduz drasticamente casos de malária com novas estratégias de prevenção

A fase piloto da quimioprofilaxia da malária em Inhambane está a mostrar resultados animadores, com uma redução significativa dos casos da doença na província, em cerca de 37%, segundo apresentados pelo Director Provincial de Saúde

A província de Inhambane, localizada no sul de Moçambique, tem sido historicamente uma das regiões mais impactadas pela malária, uma doença endêmica que afeta milhões de moçambicanos anualmente. Caracterizada por condições climáticas favoráveis à proliferação do mosquito vetor *Anopheles* Inhambane enfrentava, até recentemente, desafios significativos no controlo da doença. No entanto, os esforços concentrados nos últimos anos estão a trazer resultados positivos.  

De acordo com a Director Provincial de Saúde, Carlos Estêvão, em 2023 foram registados cerca de 925 mil casos de malária na província, o que representava uma alta taxa de incidência em relação à população. Nesse mesmo ano, 15 pessoas perderam a vida devido à doença. Já em 2024, o cenário apresentou uma melhoria considerável: os casos caíram para 613 mil, com apenas 6 óbitos reportados. Este avanço, que representa uma redução de quase 37% no número de diagnósticos e uma diminuição acentuada na mortalidade, é fruto de um conjunto de estratégias integradas de prevenção, diagnóstico e tratamento, além da cooperação ativa das comunidades locais.

Apesar dos progressos, as autoridades sublinham que a malária continua a ser uma ameaça e que o objetivo final permanece ambicioso: a eliminação total da doença. “Ainda não podemos descansar. Nosso objetivo é atingir o marco de ‘malária zero’, e isso exige um esforço contínuo e integrado”, afirmou Carlos Estêvão, Diretor Provincial de Saúde de Inhambane.

Entre as estratégias mais eficazes no combate à malária, destaca-se o uso de redes mosquiteiras impregnadas com inseticida. Desde 2022, o governo, em parceria com organizações internacionais, distribuiu milhares de redes para famílias em comunidades urbanas e rurais.

As redes, impregnadas com inseticidas de longa duração, funcionam como uma barreira física e química contra os mosquitos transmissores da doença, especialmente durante a noite, quando o risco de picadas é maior. Estudos realizados nas comunidades beneficiadas indicam que o uso regular das redes reduz a exposição ao mosquito vetor em até 70%. Contudo, para alcançar esses resultados, é fundamental que as famílias sejam sensibilizadas sobre o uso adequado. “Houve um esforço significativo de comunicação social para educar as famílias sobre como e por que usar as redes”, explicou Estêvão.

Além das redes, a pulverização intradomiciliar é uma medida complementar que tem mostrado resultados consistentes. Esta técnica, que consiste na aplicação de inseticidas nas paredes internas das habitações, interrompe o ciclo de vida do mosquito, reduzindo sua população dentro e ao redor das casas. Iniciada em 2021 como parte de uma estratégia de longo prazo, a campanha de pulverização tem metas ambiciosas: cobrir pelo menos 90% das habitações até 2030.  

Um dos desafios enfrentados é garantir que as comunidades permitam o acesso dos técnicos às suas casas. Para isso, foram implementados programas de sensibilização liderados por ativistas de saúde, que explicam os benefícios da pulverização e desfazem mitos sobre os possíveis riscos dos inseticidas. “A aceitação da pulverização melhorou muito nos últimos dois anos, e isso foi crucial para a redução dos casos de malária que observamos agora”, destacou o diretor provincial.

Outro destaque nas estratégias de combate à malária em Inhambane é a quimioprofilaxia sazonal, uma intervenção inovadora que foi introduzida em 2023 no distrito de Massinga. Este programa piloto, realizado em colaboração com o Centro de Investigação de Saúde de Manhiça, visa proteger crianças, um dos grupos mais vulneráveis à malária.  

A quimioprofilaxia consiste na administração de medicamentos antimaláricos de forma preventiva, geralmente durante os meses de maior transmissão da doença. Em Massinga, foram selecionadas crianças com idades entre 6 meses e 5 anos para participar da iniciativa. Os resultados preliminares são promissores: as comunidades envolvidas registaram uma redução de até 70% nos casos de malária entre as crianças.

Devido ao impacto positivo da intervenção, uma proposta foi submetida ao Ministério da Saúde para incluir a quimioprofilaxia no Calendário Nacional de Vacinação. A expectativa é de que, se aprovada, a medida seja ampliada para outras regiões do país. “Estamos confiantes de que esta abordagem terá um impacto profundo na saúde infantil, especialmente em áreas endémicas como Inhambane”, afirmou Estêvão.

Os medicamentos utilizados no programa são altamente eficazes e têm sido aprovados pela OMS para uso em programas de prevenção da malária. Contudo, a logística para a implementação em larga escala envolve desafios, como garantir o abastecimento contínuo de medicamentos, treinar profissionais de saúde e monitorar possíveis efeitos adversos. 

Além disso, a colaboração das famílias é essencial para o sucesso da quimioprofilaxia. “É importante que os cuidadores levem as crianças para as unidades de saúde nos momentos indicados e sigam as orientações dos profissionais”, explicou o diretor. 

Os impactos das estratégias implementadas em Inhambane são amplamente visíveis e trazem novas esperanças na luta contra a malária. A redução de quase 37% nos casos da doença e de mais de 60% nas mortes em apenas um ano é um indicador claro de que as medidas preventivas, quando bem executadas e combinadas, podem transformar significativamente a realidade de uma população afetada por doenças endémicas.

Além dos números, os avanços refletem uma melhoria na qualidade de vida das comunidades. A malária, sendo uma das principais causas de absentismo escolar e laboral, prejudica diretamente o desenvolvimento socioeconómico das famílias e da província como um todo. A redução dos casos permite que mais crianças frequentem a escola regularmente e que os adultos mantenham suas atividades produtivas, criando um ciclo positivo para o crescimento económico e social da região.

Contudo, os desafios persistem. Inhambane ainda ocupa uma posição preocupante. É a que regista o maior número de casos na região Sul de Moçambique e está também entre as províncias mais afetadas pela malária no país, ficando atrás de Nampula, Zambézia e Sofala, províncias que enfrentam contextos semelhantes devido à elevada densidade populacional e às condições climáticas favoráveis à proliferação do mosquito *Anopheles*. Para alcançar o objetivo de “malária zero”, será necessário intensificar e diversificar as ações existentes, ao mesmo tempo que se enfrentam barreiras logísticas e culturais.

Entre as prioridades estabelecidas pelas autoridades de saúde está a expansão das campanhas de pulverização intradomiciliar para áreas que ainda não foram abrangidas. Para isso, serão necessários investimentos adicionais em recursos humanos, materiais e logística. Além disso, pretende-se reforçar as ações de monitorização e avaliação para garantir que os inseticidas utilizados mantenham sua eficácia ao longo do tempo.

 

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