Perspectivas do banco central não se reflectem no bolso do cidadão, dizem economistas

O Banco de Moçambique aponta para a continuidade da redução do custo de vida à luz das medidas paliativas adoptadas pelo Governo, com destaque para a redução das tarifas de portagem em Maio e a isenção, recentemente, do Imposto sobre Valor Acrescentado, em produtos de primeira necessidade como sabão, açúcar e óleo alimentar.
De acordo com o relatório publicado recentemente pela instituição bancária, “no curto prazo, prevê-se a manutenção da tendência para a desaceleração da inflação anual, a reflectir o impacto das medidas governamentais que incluem o ajustamento em baixa das tarifas de água e portagens e a queda dos preços de alimentos no mercado internacional”. A perspectiva económica está, também, ligada à estabilidade do Metical.
O banco central acrescenta ainda que as expectativas macroeconómicas dos agentes económicos, reveladas no inquérito de Maio, apontam para uma inflação anual de 4,90% em Dezembro de 2025, o que representa uma revisão em baixa de 3 pontos percentuais face às expectativas divulgadas no inquérito de Abril.
No que toca aos riscos e incertezas para as projecções, o Banco de Moçambique aponta incertezas quanto ao efeito do crescente agravamento da situação fiscal; quanto à velocidade da reposição da capacidade produtiva e de oferta de bens e serviços; e quanto aos efeitos dos choques climáticos sobre a actividade.
Entretanto, os economistas Dimas Sinoia e Humberto Zanque, afirmam que tais perspectivas avançadas desde o início do ano não se fazem sentir no bolso do cidadão e que há disparidade entre as previsões e o efeito desejado. Para estes, há necessidade de adopção de outras medidas, tais como aumento de níveis salariais e reformas estruturais de médio e longo prazo para garantir que o cidadão comece a sentir as mudanças.
Os economistas entendem que há necessidade de combinação de factores como aumento dos níveis de produção e produtividade.
Dimas Sinoia – Economista
Este não é um resultado que se alcança em meses. Quando falamos do aumento do custo de vida, estamos a querer dizer que houve acúmulo de vários elementos como aumento de níveis salariais e reformas estruturais de médio e longo prazo para garantir que o cidadão comece a sentir uma estabilidade.
Não obstante o esforço do banco central para garantir a estabilidade cambial, há choques que foram acontecendo ao nível do sector económico no país e a sua recuperação necessita de medidas adoptadas de forma gradual. As medidas do governo elencadas pelo Banco de Moçambique têm um efeito paliativo e, muitas das vezes, não chegam a produzir o impacto desejado pelas famílias.
Para que cheguem a produzir resultados devem estar alinhadas as reformas do lado fiscal e monetário para garantir o equilíbrio da situação em comparação com os cenários dos anos passados.
Ainda que pequenas variações ao nível internacional vão tender a ter um impacto no custo de vida, com isso para dizer que o país só irá ser auto suficiente quando conseguir produzir os seus próprios alimentos. Outro aspecto importante que concorre para a redução do nível de vida são as finanças públicas e é importante que continuemos como país com garantias de melhoramento na sua gestão.
Humberto Zaqueu – Economista
As perspectivas avançadas pelo Banco de Moçambique podem ser entendidas como medidas de gestão de crise, creio que era preciso fazer alguma coisa para responder a actual crise e subida intensiva do custo de vida. O Banco de Moçambique está sim a fazer a sua parte no que toca à gestão monetária e cambial porém as acções concretas devem continuar a vir do lado do governo. Por exemplo, vejo com bons olhos o corte de alguns gastos públicos de forma razoável.
O choque de oferta e factores climáticos são alguns dos grandes constrangimentos que devem ser controlados para que as tendências do Banco Central venham a ser reais. Não é só a redução de portagem e IVA que deve ser feita, é preciso aumentar a produção e a produtividade para que haja redução em baixa dos preços de productos no mercado mas tal só será possível com o apoio à agricultura. Assegurar o crescimento da produção agrícola é permitir que o país deixe de ser dependente do exterior para comer.
A política fiscal é outro componente importante que bem gerido pode alavancar a economia do país e elevar o custo de vida, mas tal medida não pode atacar a pequenos comerciantes sob pena de afogar os iniciantes. Creio que a melhor medida medida passar por o governo renegociar os contratos com os megaprojectos.